FUTEBOL ► Por que o golaço de Roger, do Guarani, passou quase despercebido pela mídia?

Na rodada de meio de semana do Campeonato Brasileiro, um golaço não recebeu as loas devidas por parte da mídia esportiva. Por quê? Veja o gol de Roger que deu a vitória ao Guarani contra o Vasco em pleno São Januário, no minuto final da partida:

 

Perguntei ao meu irmão: “Você viu o golaço que o Roger fez?” Não, não viu. Meu sobrinho também não. Meu irmão deu uma justificativa sintomática: “Ninguém falou nada nesses programas na TV.” Pois é, ninguém falou praticamente nada. Por quê?

Algumas respostas plausíveis: grande parte da mídia esportiva não entende de futebol, só sabe vender notícia, fabricar craques e escândalos; gerar factoides; é populista no pior sentido; não dá valor a nada feito que não seja referente a um clube dito de massa; sequer sabe o que é um golaço etc…

A perfeita matada no peito de Roger (ex-São Paulo, Fluminense e Sport, entre outros), naquele curto pedaço do campo, é qualquer coisa. No melhor estilo eternizado e ensinado pelo Rei Pelé. E o toque sutil… O que dizer? E no último lance de uma partida disputada fora de casa, e logo em São Januário, onde o Vasco, independente de estar bem ou mal das pernas, sempre é um adversário difícil de ser batido? Golaço. Golaço que aqui em meu espaço faço questão de celebrar.

Foi o discreto e correto profissional Roger quem fez o golaço, jogando pelo Guarani, que não faz parte do bloco de clubes que recebe a quase total atenção da imprensa. Alguém pode imaginar a repercussão de um gol assim caso fosse marcado por um dos pares do recém-divorciado Império do Amor? Ou por um Neymar da vida, o rei do cai-cai? No mínimo parariam o mundo e empurrariam o menino problema goela adentro de Dunga lá na África do Sul…

Ninguém chamou Roger de rei da área ou coisa parecida, nem as TVs ficaram de quatro para o gol e seu autor, como costumam ficar por muito menos para outros jogadores ou jogadores de outros times. Acompanhei algumas das vezes em que o gol foi exibido. Em nenhuma delas foi feito qualquer alarde. Aliás, se você não prestasse a atenção ou desse uma piscada na hora, em alguns canais nem repararia na beleza do gol, já que era exibido a toque de caixa, como mais um, sem direito nem àquele tradicional clichê do “esse vale a pena ver de novo”. Uma injustiça.

Hoje tem gente que acha que golaço só é feito por jogador de time grande (?). Que golaço é um chute de bico, totalmente desequilibrado, verdadeiro pombo sem asas que faz trezentas e noventa e cinco curvas graças a essas patéticas bolas usadas atualmente e que literalmente cai no ângulo de uma baliza. Para essa gente, só certos jogadores de certos times fazem golaço, os outros só fazem gols bonito, assim como certos goleiros não frangam nem falham, apenas dão azar.

Não vou ficar aqui querendo definir o que é golaço, até porque é algo que tem alguns padrões subjetivos. Mas para mim um golaço passa por um chute refinado tecnicamente, um deslocamento surpreendente, uma jogada inesperada, um lance decisivo, um certo grau de dificuldade, que pode ser técnica ou psicológica (o momento).

Uma observação, porém, faço questão de registrar. Às vezes um time está ganhando de 20 x 0 (como é possível ver, adoro esses exageros de linguagem) de um Rosita Sofia da vida e aparece “craque” que pega a bola, dá de calcanhar aqui, dribla de letra ali, rabisca mais três, arrisca um balãozinho e faz o gol de bunda. Legal. Mas até aí (como também gosto de dizer), morreu o Neves. Quero ver fazer tudo isso no último minuto de um jogo decisivo e/ou contra o maior rival, seu time com a corda no pescoço e a torcida querendo arrancar seu couro fora. Aí, sim, não tem preço: é um golaço, e não apenas um gol bonito.

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