NBA ► “Fishertime”: Derek Fisher, o cara certo das horas incertas, garante vitória e vantagem do Los Angeles Lakers sobre o Boston Celtics na final da NBA

Los Angeles Lakers 91 x 84 Boston Celtics
Final

(2 x 1)

 

Consegui ver ao vivo o final do jogo 3 entre Los Angeles e Boston Celtics, graças ao bendito horário de refeição a que todo trabalhador tem direito. E ali pelas tantas fiquei pensando: “Cara, Lakers x Celtics é realmente O jogo.” Não há como imaginar rivalidade maior que seja mais atraente em uma final da NBA. Digo mais: acho que não há nada que represente mais a NBA que Lakers e Celtics disputando uma série decisiva. Duas grandes franquias, de peso, tradição,conquistas, torcida, determinação, a atmosfera… A intensidade da disputa é realmente impressionante. Ninguém quer perder – de verdade. Tudo parece História, como os vídeos antigos que nós, amantes do basquete, vemos embevecidos sobre grandes momentos da NBA. Ou melhor: parece a História sendo escrita diante de nossos olhos, via telinhas e telonas que a tecnologia de hoje nos oferece.

Feito esse clicheríssimo nariz-de-cera (abertura meio embromatória de um texto jornalístico), vamos ao jogo em si… Incrível como essa série tem sido marcada pela combatividade dos times e pela irregularidade técnica dos jogadores. Poucas vezes o coletivo esteve valendo tanto sobre o individual numa decisão. Até agora, pelo menos. Assim, um jogador que vá além acaba desequilibrando. Se no jogo 2 Ray Allen deu a vitória ao Celtics, desta vez, o veterano armador fez um ótimo último quarto e deu a vitória na partida e a vantagem de 2 x 1 na série ao Lakers.


O jogo não fugiu ao padrão dos dois primeiros: muita defesa, muito contato, cestas suadas, muitas faltas, muita gente pendurada, árbitros cada vez mais inseguros, recorrendo ao vídeo até para decisões em jogadas claras. Um erro, inclusive, poderia ter influenciado bastante no placar final, ao não ser marcada uma claríssima falta de Kevin Garnett no ataque sobre Lamar Odom, que ganhara o rebote limpamente e teve o braço puxado de modo que não teve como não largar a bola, que saiu pela linha de fundo. Não vendo a falta, os árbitros consultaram o vídeo para dar o fundo bola para o Celtics. Sorte deles que Garnett fez uma falta ofensiva e a bola retornou ao time do Lakers.

No primeiro tempo, apesar de toada a briga, o Celtics não conseguiu impedir o Lakers de marcar: foram 52 pontos e uma confortável vantagem de 12, que foi a 17 no início do terceiro quarto. O que mais ou menos corresponde às minhas expectativas: se o jogo pender para uma pontuação alta, fica muito difícil para o Celtics acompanhar o Lakers. E foi quando conseguiu finalmente frear o ataque californiano que o Celtics conseguiu, pouco a pouco, tirar a diferença, até ela cair para apenas um ponto a 10 minutos do fim. E aí entrou em cena Derek Fisher, com 11 pontos, apenas um de lance livre e todos os outros em condições absolutamente difíceis. O veterano armador das bolas certas nas horas certas foi decisivo e garantiu importante vantagem para seu time na busca do bicampeonato.

Era preciso aparecer alguém para decidir e o Lakers teve essa figura em Fisher. Kobe Bryant fez um jogo extremamente competitivo, de muita vibração, muita garra mesmo na briga pela bola, muita defesa, liderança… Na foto seguinte, o flagrante de uma incrível recuperada de bola, praticamente fora da quadra após ser tirada das mãos de Garnett, que ainda resultou em assistência para cesta de Andrew Bynum. Enfim, a tal da atitude, apesar de sofrer com os arremessos, acertando apenas 10 em 29 tentados. Nessas situações, o Lakers precisa de uma segunda via que decida. E Fisher foi, mais uma vez, O cara.

Para vencer em Boston, o Lakers teve que funcionar muito bem como time, mas isso não refletiu-se necessariamente em números para os jogadores. Pau Gasol sofreu com Kevin Garnett e não produziu muito no ataque, marcando apenas 13 pontos, mas pegou 10 rebotes e fez quatro assistências. Ron Artest pouco chutou – e chutou mal: acertou uma em quatro. Mas fez um grande jogo defensivo e recuperou uma fundamental bola que Kendrick Perkins batia no meio da quadra (quem? onde?) fazendo o quê?) no final do último período.. E Bynum saiu com nove pontos e 10 rebotes. Lamar Odom desta vez acertou todos os seus arremessos, anotando 12 pontos. O resto do banco, se não pontuou, brigou bastante e economizou faltas dos titulares. Neste jogo, apenas Fisher esteve realmente ameaçado pelas faltas. Como eu previ (também não foi grande coisa, me parecia meio óbvio), Kobe Bryant não teve qualquer problema com faltas após jogar pendurado boa parte da partida anterior. Esses juízes são cada vez mais previsíveis: se no jogo 2 penduraram cedo vários titulares do Lakers, agora viram mais faltas dos jogadores do Celtics…

Em relação ao Celtics, eu escrevi que Garnett e Paul Pierce não poderiam voltar a jogar tão mal, pois não é provável que o time vença assim. No jogo de ontem, os alienígenas devolveram a habilidade de Garnett, que sobrou em cima de Gasol no ataque, acertando 11 de seus 16 arremessos e anotando 25 pontos. Mas Paul Pierce… Pierce fracassou novamente, foram apenas 15 pontos, (o time precisa de mais) e pendurou-se cedo em faltas. Curiosamente, Pierce acertou três de seus quatro arremessos da linha de 3. Os homens grandes do Celtics esforçaram-se bastante. Kendrick Perkins conseguiu 11 rebotes e apenas duas faltas, o que lhe permitiu jogar com toda a força o tempo inteiro que esteve em quadra. E Glen Davis anotou 12 pontos vindo do banco, jogando também com muita intensidade. Como a “ausência” de Pierce tem sido meio frequente, o Celtics sofreu mesmo com as estrelas que lhe darem a vitória no jogo 2 no Staples Center.

Após um triplo-duplo, Rajon Rondo sofreu com a forte marcação e não teve muitas chances de chutar. Terminou com discretíssimos 11 pontos e oito assistências. Mas o que fez a diferença negativa desta vez foi Ray Allen. O armador que no domingo bateu o recorde de cestas de 3 em partidas de playoffs. Eu comentei que havia sido uma atuação um tanto acima de seus padrões, isso não deveria se repetir. Mas também não podia imaginar que Allen fosse do vinho para água! Ele ontem por pouco não atingiu uma marca nada honrosa: errou todos seus 13 arremessos de quadra. Parece que os alienígenas torcem pelo Lakers e desta vez resolveram drenar todo o talento do armador. Se tivesse errado mais um, Allen teria perpetrado o pior desempenho da história dos playoffs da NBA. E foi por muito pouco, pois Garnett cometeu uma falta de ataque quando Allen já desperdiçava uma bandeja extremamente fácil no final da partida. Como disse Fisher, encarregado de marcá-lo, isso não vai acontecer de novo. Mas aconteceu ontem – e foi fatal para o Celtics.

E agora? O Lakers tem a vantagem de 2 x 1 na série. Os próximos dois jogos ainda são em Boston, mas o time já tem a certeza de voltar à Califórnia dependendo, no máximo, de duas vitórias no Staples Center para conquistar mais um campeonato. Isso deve dar a Kobe e companhia maiores segurança e tranquilidade, o que pode ser muito bom para o time. Com certeza, a pressão está toda sobre o Celtics, que parece não ter pensado em hipótese alguma que não venceria suas três partidas com mando de quadra. Isso podemos concluir tanto pela correta leitura que Kevin Garnett fez das séries anteriores contra Cleveland Cavaliers e Orlando Magic (de que não poderiam voltar à casa adversária para um decisivo jogo 7), quanto pelas palavras captadas de Paul Pierce para Kendrick Perkins no final do jogo 2: “Não voltaremos para Los Angeles!”. Bem, vão voltar. É hora de colocar o plano B em ação…

Para quem acompanha o blog, mais um sensacional vídeo distribuído pelo site da NBA, desta vez sobre o jogo de ontem:

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