IMPRENSA ► Em época de eleições, a manipulação da informação corre a todo vapor

Em época de eleições, a imprensa brasileira sempre fica na mira de quem cobra uma posição ética e profissional daqueles que detém o poder da informação, especialmente da informação de massa. Felizmente, nestes tempos de internet, principalmente de internet livre, esse poder diluiu-se bastante e o que sai nos jornais, revistas ou mesmo páginas da rede não é mais recebido como verdade absoluta. Há diversas fontes a se consultar a fim de saber o que realmente procede ou não e assim termos mais base para formar nossa própria opinião.

Sendo assim, imagina-se utopicamente – eu imagino – que o tempo do jornalismo panfletário fique relegado a órgãos específicos de divulgação, que honestamente assumam ser veículo oficial de um partido, um sindicato, um grupo político, empresarial…

Mas não, ainda hoje vemos a chamada grande imprensa se comportar de forma patética, brega até, em defesa dos interesses de seus patrões.

Outro dia, o portal Globo.com mostrou um baita exemplo de como não se fazer jornalismo – ou como fazer “jornalismo” (assim, com aspas, de mentirinha) em defesa de interesses particulares.

Lembro que abri o computador e quando passei pelo Globo.com levei um susto com o destaque da manchete: “Dilma declara patrimônio de 1 milhão e vai gastar 157 milhões em campanha.” Uau! Dilma Rousseff, claro, candidata do PT à sucessão presidencial.

Fosse um site que eu levasse a sério, poderia ter pensado em algum instante: “Puxa, deve ser muito mais que todos os adversários juntos, deve ser um absurdo de gastos, senão não estaria em destaque assim…”

Bobagem. Sendo um veículo das Organizações Globo, sempre suspeito que haja algo por trás de qualquer manchete negativa em relação a um governo e a partidos à esquerda. Na verdade, sempre acho que há algo por trás de qualquer manchete de veículos desse grupo, nunca acho que seus critérios sejam apenas jornalísticos. A História ensina isso.

Então o que pensei foi mesmo: “Tá bom. E o Serra, vai gastar quanto?” José Serra, candidato do PSDB claramente apoiado pelas Organizações Globo, Abril e afins. Queria conhecer (eu e qualquer pessoa interessada) os gastos de Serra para saber se realmente a manchete era cabível ou não. Ou apenas para efeito de comparação. Pois essa manchete negativa em relação à candidata do atual governo ficou a tarde inteira no ar. E boa parte da noite também. Enquanto isso, a campanha de José Serra ainda não divulgara sua previsão de gastos, pois estava atrasada, não conseguira fazê-lo a tempo.

Já à noite, finalmente os números do candidato do PSDB foram divulgados: 1,3 milhão de patrimônio e gastos de 180 milhões na campanha.

Ora essa, números bem superiores ao da candidatura Dilma, não? Poderíamos imaginar então uma manchete com um destaque maior ainda… Brincadeirinha. Não havia chance disso acontecer. O Globo.com não destacou em manchete nem tocou mais no assunto em sua capa (não me dei ao trabalho de procurar “lá dentro”). Uma pergunta bem estilo tatibitate: “Por que será, hein?”

E ainda há quem queira comentar qualquer coisa a sério com base no “saiu no O Globo”. Se saiu no O Globo, saiu mal…

Fosse um jornalismo sério, o Globo.com não destacaria os gastos de uma campanha numa eleição polarizada como esta sem ter as informações relativas à outra. Daí já sabermos que não é um jornalismo sério, não é competente.

Fosse um jornalismo apenas sensacionalista, da mesma forma que destacou os gastos da primeira campanha, o Globo.com destacaria os da segunda mais ainda, inclusive por serem superiores. Mas também não é o caso.

O jornalismo feito pelo Globo.com foi apenas panfletário mesmo, pelego, cujo trabalho está a serviço dos patrões. E só.

Eventualmente, um jornalismo assim pode até convergir com a verdade e o interesse social. Mas isso é raríssimo.

Não acho absolutamente nada demais um veículo de imprensa apoiar um candidato ou outro. Acho que isso faz parte do jogo democrático. Mas isso tem que ser feito de forma honesta. Como grandes veículos da imprensa norte-americana há muito fazem: assumem em seus editoriais suas preferências e recomendam seus candidatos aos leitores, mas sem deixar de fazer uma cobertura ética da campanha, imparcial.

Mas a imprensa brasileira pouco tem desse hábito. Há exceções, claro, como a Carta Capital, mas apenas para comprovar a regra. Em geral, a imprensa brasileira prefere – como O Globo sempre faz – fingir seriedade e fazer um descarado e covarde jornalismo panfletário. Tão panfletário ao ponto de chegar a publicar oito manchetes negativas em relação ao atual governo na capa de uma mesma edição. Parece que vivemos uma imensa depressão…

Acho que o problema desse tipo de imprensa não é nem assumir seus candidatos, mas assumir a ética e a imparcialidade na cobertura que esse ato acarretaria. Ética e imparcialidade são palavras que realmente nada têm a ver com muitos desses veículos de comunicação.

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