Como registrei em post anterior, a mídia em geral utilizou a palavra tragédia com grande estardalhaço para relatar o incêndio ocorrido na Cidade do Samba. Me parece caso de exacerbado sensacionalismo. Foi um incêndio de graves proporções, sim, mas se todas as tragédias do mundo se resumissem apenas a perdas materiais seríamos muito mais felizes.
Praticamente todas as mídias (ao menos todas as que vi, li e ouvi) enfatizaram e divulgaram o desespero dos componentes e demais pessoas tentando salvar o que fosse possível do trabalho das escolas, palavras de desespero, desconsolo, lágrimas e choros. Coisas tipo “todo o nosso carnaval se foi”, “um trabalho de oito milhões de reais em cinzas”, “a escola não tem como reconstruir tudo em apenas um mês”, “vamos até de bermudas e chinelos”…
Entendo o choro e as lágrimas de quem trabalha tanto para produzir um barracão. Mas as entendo como lamento pelo esforço e pelo suor derramado naquela obra. Passada a frustração, quem trabalhou por amor não vai deixar faltar amor para reconstruir tudo que for possível. E quem trabalhou por dinheiro, profissionalmente, continuará a ter trabalho por fazer.
Sinceramente, até parece que isso nunca ocorrera antes. E até parece (II – A Missão…) que nos dias que em vivem as escolas do Grupo Especial, repletas de subsídios e patrocinadores, elas não teriam como se recompor em 30 dias e colocar um belo carnaval na rua. E digo “belo” porque parece que apenas isso, a beleza, importa nos chamados desfiles principais, os de domingo e segunda-feira de carnaval na Marquês de Sapucaí.
Mas o que é beleza num desfile de escola de samba?
Pelo visto, beleza é sinônimo de luxo, muito luxo.
Para mim, não é.
Entendo que beleza em desfile de escola de samba seja o esforço de uma comunidade para levar sua escola para a Avenida, descrevendo em samba, fantasias e alegorias um enredo de relevância cultural, da mais forma mais bonita possível. Principalmente, destacando suas maiores riquezas: seus componentes. Passistas, baianas, ritmistas, compositores, mestre-sala e porta-bandeira: isso, sim, a grande riqueza de uma escola de samba. Puro ouro escondido no mar de areia exibido no Sambódromo.
E nada dessa riqueza se perdeu na Grande Rio, na Portela ou na União da Ilha no incêndio do dia 7 de fevereiro.
Por isso, muito me surpreendeu – e até me chocou – a falta de sorrisos no rosto em todas aquelas matérias que exploravam o acidente. Faltou alguém abrir a boca, mostrar os dentes e dizer: “Gente, ninguém morreu! O carnaval tá aí e nossa escola vai linda para a Avenida!”
O problema é que muita gente já não consegue reconhecer a verdadeira beleza de uma escola de samba.
Uma beleza que dispensa seis, oito ou 10 milhões de reais e que pode ser exibida mesmo em um desfile com seus componentes vestindo apenas bermudas e chinelos.
Por que não?
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Concordo plenamento com o que está escrito, belo post
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