Escrevi por aqui, como meu destaque olímpico, o protesto feito pelo maratonista etíope Feyisa Lilesa, denunciando arbitrariedades e crimes cometidos pelo governo de seu país.
Agindo assim, Feyisa Lilesa colocou em risco a própria vida como a de seus familiares.
Quanto aos familiares, não se sabe como estão. Já Feyisa ainda não teve coragem de voltar para casa. Por mais que o governo etíope tenha lhe dado garantias, ele não confia muito nisso.
Eu também não confiaria.
Por ora, Feyisa Lilesa está exilado em Nova York, decidindo o próximo passo de sua vida.
Mas o maratonista olímpico não foi o único atleta do país a aproveitar a visibilidade de um grande evento para denunciar ao mundo o mal que assola sua terra e se manifestar em defesa do povo Oromo.
Tamiru Demisse cruza os punhos na chegada dos 1.500m rasos,
categoria T13, dos Jogos Paraolímpicos do Rio de Janeiro
Tamiru Demisse, etíope como Feyisa, foi medalhista de prata (como Feyisa também) na Paraolimpíada. Ele correu a prova de 1.500m da classe T13, para deficientes visuais parciais, que conseguem enxergar alguma coisa – tanto que a presença do guia é dispensável.
Assim como seu compatriota olímpico, Tamiru Demisse fez o gesto dos punhos cruzados ao chegar à linha final, abdicando inclusive da disputa da glória do primeiro lugar, pois, acredito eu, ele visivelmente trava a corrida se preparando para levar as mãos ao alto. Se não o fizesse, poderia ultrapassar o argelino Abdellatif Baka e conquistar a medalha de ouro.
E um parágrafo digressivo para um registro curioso: tanto os três medalhistas quanto o quarto colocado paraolímpicos fizeram um tempo melhor que o medalhista de ouro olímpico.
Voltando ao tópico do post, no pódio, Tamiru tornou a repetir o gesto de protesto.
À imprensa, ele disse, abrindo aspas:
“A Etiópia não tem liberdade. Milhões de pessoas são contra o governo. Eu não voltarei para casa porque, se eu voltar, serei morto.”
Não só os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos, como o esporte em geral, precisam de mais atletas como Feyisa Lilesa e Tamiru Demisse.
Atletas que já são História.
É difícil, muito difícil, arriscar-se assim, abdicar de tanta coisa por uma causa, mas felizmente há humanos que conseguem ter esse tipo de gesto de grandeza. Não sei se eu seria capaz disso. Provavelmente não. A maioria de nós não.
Que a “Força”, seja ela da crença que for, esteja sempre ao lado de gente como Feyisa Lilesa e Tamiru Demisse…
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