VIDA ► 50 Anos em 10 curtas-metragens

50dPor incrível que pareça, apesar de ter crescido ainda durante a ditadura e o tipo de produção da época ser, normalmente, bem chatinha de se assistir, eu sempre gostei de curtas-metragens.

Vale deixar claro que, para mim, cinejornais (especialmente o Canal 100), trailers e curtas faziam parte de uma espécie de liturgia cinematográfica.

Mas, enfim, ali pelos anos 1980 houve um verdadeiro boom de curtas de bom apelo entre o público. De lá para cá o gênero se estabilizou e hoje, mesmo que com dificuldades aqui e ali, é uma realidade do cinema brasileiro.

Nesta minha lista de 50 anos vão 10 dos que eu mais gostei ou me marcaram. A ordem é completamente aleatória. Aqueles que estão disponibilizados no ótimo site Porta Curtas têm link direto para lá, basta clicar na imagem. Exceção para um episódio de “Antunes e Bandeira”, cujo link vai para o YouTube. Os demais, infelizmente, não estão disponíveis na internet. 

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curta-metragem

A Espera, Um Passatempo do Amor (Luiz Fernando Carvalho & Maurício Farias, 1986)

Baseado em passagens do livro “Fragmentos de um Discurso Amoroso”, de Rolland Barthes, é praticamente irresistível. Afinal, trata de situações pelas quais todo mundo passa uma ou outra vez na vida. Desafio a qualquer um não se identificar com a trama – ou com diferentes vertentes da mesma trama, no caso. Quem puder assistir, atenção no prólogo.

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Por Dúvida das Vias (Betse de Paula, 1988)

Quem hoje fala mal de serviço público e tem menos de, digamos, 40, 50 anos talvez, realmente não sabe o quanto a situação melhorou. Uma verdadeira revolução comparada ao que era no passado. Essa crítica caricatural dá bem uma ideia do desespero de ter que contar com o serviço de alguma repartição pública.

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Barbosa (Ana Luiza Azevedo & Jorge Furtado, 1988)

A máquina do tempo que leva o personagem de Antônio Fagundes ao passado, na desesperada tentativa de alertar o goleiro Barbosa no lance que gerou o gol do título uruguaio na Copa do Mundo de 1950 contra o Brasil, nos permite reviver o drama humano vivido pelo grande goleiro que fez nome defendendo a seleção brasileira e o Vasco da Gama. Uma obra de ficção bem legal e uma das melhores no gênero esportivo.

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Ilha das Flores (Jorge Furtado, 1989)

“Ilha das Flores” é um ícone da história do cinema brasileira. O curta-metragem foi exibido e estudado à exaustão e ainda hoje é extremamente impactante. Reflete com uma dose na medida certa de sarcasmo e ironia uma realidade brasileira que, apesar de ainda existir, felizmente diminuiu bastante na última década. Não só isso, a estética narrativa de Jorge Furtado fez escola e quem nunca assistiu ao curta vai perceber que muita coisa ali já viu antes em algum outro lugar. Historicamente obrigatório.

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curta-metragem

A Porta Aberta (Aluizio Abranches, 1988)

Esse curta eu sempre achei bem legal. Um conto de terror contido que me deixou o tempo todo na expectativa em relação à… bem, tá no título… àquela porta aberta.

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Meow (Marcos Magalhães, 1981)

Acho que “Meow” foi o primeiro curta nacional a chamar a atenção do grande público. Por quê? Ora, porque foi premiado internacionalmente. E sabemos que aqui qualquer título mundial de qualquer coisa é motivo para extravasarmos nosso pachequismo. E a animação que tem um gato como personagem e critica o aculturamento nacional por parte daquela grande potência ao norte das Américas faz jus à fama.

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A Alma do Negócio (José Roberto Torero, 1996)

“A Alma do Negócio” é uma divertidíssima sátira aos comerciais televisivos, com uma pitada de humor negro completamente nonsense. Até hoje paro para assistir quando sintonizo esse curta em algum canal a cabo da vida.

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Uma História de Futebol (Paulo Machline, 1998)

Livremente inspirado na infância de Pelé, essa fábula muito caprichosamente fotografada, na verdade, se aplica a todos os garotos que cresceram brincando nas ruas e, principalmente, jogando bola com os amigos nos campinhos de pelada da vizinhança ou no quintal da própria casa. Para esses, absolutamente imperdível. Impossível não se identificar. Eu fui criança, joguei muita bola na rua, é minha história também.

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Novela (Otto Guerra, 1992)

Acho essa animação, cujos personagens são jacarés e revela os bastidores do estúdio de gravação de uma grande novela, muito divertida. Qualquer semelhança com a vida real, provavelmente, não é mera coincidência.

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Antunes e Bandeira (Still, 1980)

Lembro muito do detetive Bandeira, um tamanduá, e seu auxiliar Antunes, uma anta. Lógico, outra animação. Aqui, uma série “policial” com investigadores bem atrapalhados. A diferença é que aqui a história vinha em episódios, era uma série. E eu sempre torcia para que naquele dia no cinema tivesse mais um episódio de Antunes e Bandeira. Impossível esquecer aquela anta com uma voz peculiar chamando: “Detetive Bandeira! Detetive Bandeira!”

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curta-metragem

Carolina Maçãs Crocantes (Paulo Henrique Fontenelle, 2002)

Como diz o genial diretor documentarista Paulo Henrique Fontenelle (“Lóki”, “Mauro Shampoo”, Dossiê Jango”, “Cássia Eller”…), “Carolina, Maçãs Crocantes” é um curta pouco visto, mas muito elogiado. A história autobiográfica diluída em uma dezena de personagens e tramas diferentes é atraente e tocante, além de uma mostra inicial de todo o talento que meu amigo Paulo demonstraria nos documentários que faria a seguir. Aliás, o que ele já havia feito em seus tempos de universitário com o impagável “A Revolta dos Humildes”.

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