FUTEBOL ► Para satisfazer vaidade de patrocinador, Fluminense demite Cuca e expõe sua faceta de clube pequeno

É, porque clube pequeno que é assim: alguém que põe 10 mil réis do próprio bolso manda e desmanda. Põe o filho aqui, a mulher ali, a amante acolá e por aí vai. No futebol, o Fluminense presta-se bem a esse papel, dançando conforme os desejos vaidosos de Celso Barros, em nome da patrocinadora Unimed.

Aliás, o Brasil anda repleto de clubes como o Fluminense, grandes em tradição e torcida, mas pequenos demais em administração e pensamento. Não vou aqui me estender sobre os outros. Cada um sabe o calo que mais o incomoda. Só pretendo reclamar de mais um passo em falso dado pelo meu time.

A desculpa de que o clube foi mal no Campeonato Carioca, além de patética, reforça o processo de apequenamento, já que é a menor competição a ser disputada no ano, de valor incomensuravelmente menor que a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro. O Fluminense precisava, inclusive, frequentar umas aulas sobre como demitir um treinador com um mínimo de sutileza ética e inteligência. 

Cuca conseguiu no ano passado o maior feito na história do futebol brasileiro, tirando o Fluminense de um rebaixamento tão provável que a missa de sétimo dia já estava até encomendada. E não tirou naquela base de “no peito e na raça” apenas. Houve raça, garra… e bom futebol. Muito bom futebol, por sinal, o que foi ainda mais incrível. O heroico Fluminense de Cuca terminou o ano com aproveitamento de campeão e jogando o melhor futebol no país. O já lendário “time de guerreiros”, além de não cair, chegou a um também improvável vice-campeonato da Copa Sul-Americana.

Mas bastou não chegar no pífio Campeonato Carioca (que, como todo campeonato estadual, todo mundo diz não ter valor algum, mas que serve muito bem para atender a interesses imediatistas de dirigentes amadores) para oferecer o pretexto necessário ao patrocinador para mais uma vez dar vazão à sua vaidade e aos seus sonhos de grandeza (?). É, porque quem decide essas coisas de futebol no Flu é o patrocinador, que conseguiu demitir Cuca contra a vontade da diretoria, dos jogadores e da torcida. Só importa a vontade da Unimed, na figura de Celso Barros.

E lá foi a Unimed atrás de mais um nome de grife.

Assim, o Fluminense inicia hoje a Era Muricy, outro bom treinador. E o que será preciso para que sua presença à frente do clube se prolongue? Vitórias? Títulos? Não sei. Isso ajuda, mas no amador Fluminense, clube presidido pelo chamado “presidente de dois neurônios”…

O Fluminense tem tido nos últimos anos elencos e treinadores acima da média, mas sem resultados à altura. A única constante, que não muda nunca, é a direção e a influência do patrocinador.

A Unimed foi fundamental para o Fluminense quando o clube caiu para a terceira divisão. Viabilizou Carlos Alberto Parreira e uma comissão técnica de altíssimo nível e Parreira praticamente resgatou o Fluminense do fundo do abismo. Quem é tricolor conhece a história. Mas daí para frente parece que a tal da mosca azul picou o homem do patrocínio e tudo mudou.

Hoje Celso Barros manda e desmanda no futebol do clube, sem que isso resulte em resultados à altura desse poder. Mina trabalho de treinadores quando quer impor seus nomes, investe alto em nomes já pouco produtivos, mas que dão manchetes… Tão preocupado com mídia e factoides que nada investe em Xerém (não dá manchete investir na base, o lance é o “aqui e agora”), onde realmente se encontra o futuro do Fluminense e que tem gerado talentos e mais talentos, sempre negociados a preço de banana em fim de feira por falta de competência para mantê-los ou vendê-los minimamente bem.

O muitas vezes intragável, mas inegavelmente capaz, Muricy Ramalho pode fazer um bom trabalho? Pode. Vencer? Conquistar títulos? Pode. Até porque, como ele mesmo reconhece, pega uma base feita, bem armada, que sabe jogar e costuma jogar bem. Mas tudo que vier a conseguir será sempre na base do “apesar de” em relação á ridícula administração do clube. Do mesmo modo que “apesar de” o Fluminense quase conquistou uma Taça Libertadores, “apesar de” o Fluminense quase conquistou uma Copa Sul-Americana, “apesar de” o Fluminense não caiu no Campeonato Brasileiro do ano passado… 

Pelo menos a contratação de Muricy Ramalho impediu – por ora – o mico ainda mais patético, o suprassumo da humilhação para nós tricolores, que seria a substituição de Cuca pela cogitada dupla Romário e Joel Santana. Quando esse dia chegar, eu dou um tempo.

E antes que me esqueça: obrigado, Cuca! E boa sorte, Muricy!

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NBA ► Magic quase lá, Heat, Mavs, Bulls e Nuggets respiram por aparelhos, Bucks e Blazers estão vivos e campeão sofre: pegam fogo os playoffs da NBA

Oito jogos deram sequência aos playoffs da NBA neste fim de semana.

Começando pelo sábado. Provavelmente com o basquete mais consistente da pós-temporada, o Orlando Magic venceu também em Charlotte e lidera a série contra o Bobcats, que deve aproveitar a segunda partida em casa para evitar uma varrida (na NBA, quando um time vence toda uma série de jogos contra o mesmo adversário).

Em resultado meio surpreendente (apenas meio, com esse time tudo é meio possível), o Portland Trail Blazers voltou ao jogo diante de sua torcida e igualou tudo na série contra o Suns. Como o time improvável e brancaleônico que é, acontece de tudo com o Blazers. Desta vez, foi de forma positiva: o surpreendente retorno do astro Brando Roy (foto) cerca de apenas duas semanas após uma artroscopia. Ninguém esperava. O astro ligou para o treinador e pediu para jogar. Roy saiu do banco e anotou módicos 10 pontos, mas o impacto de sua presença foi psicologicamente muito importante para o ânimo dos companheiros e da torcida. Mas não será fácil o valente time de Portland arrancar nova vitória em Phoenix, agora que o Suns está mais esperto em relação ao adversário, por assim dizer.

Quem esteve muito esperto foi o Bucks. Jogando em casa, o time de Milwaukee mostrou ao Hawks quem manda no pedaço e conseguiu sua primeira vitória. Foi fácil, fácil, jogo praticamente decidido no primeiro quarto.

No quarto do jogo de uma série que promete emoções até o fim, o campeão Lakers sentiu com quantos tons de grave ressoa um trovão e descobriu que um raio cai duas vezes no mesmo lugar, sim. Assim como no último jogo da temporada regular disputado em Oklahoma, o Thundercats atropelou – passou por cima, nocauteou, massacrou, ignorou ou qualquer outra expressão que preferir – o favorito time de Los Angeles, para alegria da mamãe de Kevin Durant (foto). Foi um jogo tão atípico e fácil que Kobe Bryant e Kevin Durant viram o último quarto do banco. Kobe, então, teve uma atuação como poucas na carreira, especialmente em playoffs: marcou 10 pontos, arremessando apenas 10 vezes, passando o primeiro quarto inteiro sem tentar um único arremesso! Restou ao campeoníssimo técnico Phil Jackson reclama dar enorme disparidade entre o número de lances livres cedidos pela arbitragem: foram 42 lances livres a mais para o time da casa nos últimos dois jogos, com Kobe arremessando duas vezes, contra 24 de Durant. Podem esperar uma chuva de lances livres para Kobe e o Lakers na volta ao Staples Center. Esse jogo 5 promete e acredito que quem vencer leva a série.

Já no domingo, o meio esquecido, pela fraca companhia, mas muitas vezes genial Dwyane Wade despejou 46 pontos para cima do Celtics e garantiu ao menos uma vitória de honra para o Heat à frente de sua torcida, em Miami. A foto mostra o craque cravando de costas. Mas deve ficar nisso mesmo e a série provavelmente não passa do jogo 5 em Boston.

Como esperado, LeBron James resolveu mostrar ao Bulls quem mandava, anotou um grande triplo duplo (37 pontos, 12 rebotes e 11 assistências) e o Cavaliers não teve qualquer dificuldade para vencer em Chicago e marcar sua passagem às semifinais da Conferência Leste para o jogo 5, em Cleveland – apesar dos incríveis 20 rebotes e 21 pontos do pivô Joakim Noah.

Nos dois últimos jogos da noite, dois grandes confrontos,
verdadeiros clássicos da Conferência Oeste.

Em San Antonio, o Dallas Mavericks não conseguiu descobrir a fórmula para superar o pragmático e competitivo basquete do Spurs, que venceu mais uma partida apertada e abriu 3 x 1 na série. Com uma atuação totalmente fora da curva de Tim Duncan (apenas 4 pontos, um arremesso de quadra acertado em nove tentativas), o Spurs contou com grande atuação do calouro George Hill (o garoto da foto), que fez o maior número de pontos de sua curta carreira (29) e garantiu a festa da torcida. Muita pressão agora sobre o forte time do alemão Dirk Nowitzki para o jogo 5, em Dallas. Mark Cuban deve estar arrancando seus bem penteados cabelos.

E em Utah, na série com placares mais altos, o Jazz mostrou mais uma vez ao Nuggets como é difícil de ser derrotado em Salt Lake City. Deron Williams e Carlos Boozer (comandando a massa na foto), cada vez mais comparados aos lendários John Stockton e Karl Malone, brilharam mais uma vez. Pelo lado adversário, Carmelo Anthony fez grande jogo, mas precisa de mais ajuda. Não pode Nenê arremessar apenas três vezes em uma partida decisiva. O forte pivô brasileiro precisa ser mais acionado pela armação do time e também forçar mais o jogo no garrafão. De todo modo, grandes emoções à vista na volta da série ao Pepsi Center, em Denver, outra quadra indigesta para os adversários.

Resultados (mando de quadra sempre do segundo time e entre parênteses o placar da série):

Orlando Magic 90 x 86 Charlotte Bobcats (3 x 0)
Phoenix Suns 87 x 96
 Portland Trail Blazers (2 x 2)
Atlanta Hawks 89 x 107 Milwaukee Bucks (1 x 2)
Los Angeles Lakers 89 x 110
 Oklahoma City Thundercats (2 x 2)
Boston Celtics 92 x 101
 Miami Heat (3 x 1)
Cleveland Cavaliers 121 x 98
 Chicago Bulls (3 x 1)
Dallas Mavericks 89 x 92 San Antonio Spurs (1 x 3)
Denver Nuggets  106 x 117 Utah Jazz
  (1 x 3)

Links:

ESPN: http://espn.go.com/nba/

NBA: http://www.nba.com/playoffs2010/index.html 

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