COPA DO MUNDO 2010 ► Brasil vence bem Costa do Marfim em jogo atrapalhado por árbitro horroroso

Que a seleção de futebol francesa anda mal das pernas, até o Papa sabe. Mas pior é saber que a participação ruim do país na Copa se estende também aos homens de preto – no caso de hoje, de preto e vermelho. O péssimo trio de arbitragem formado pelo horrível juiz Stephane Lannoy e os bandeiras Eric Dansault e Laurent Ugo fez de tudo para acabar com o jogo em que o Brasil derrotou com justiça a Costa do Marfim por 3 x 1 e se garantiu nas oitavas de final da competição.

Com menos de 1’ de bola rolando, Robinho chutou de longe e quase surpreendeu o goleiro Barry. Mas quem teve a esperanças de um jogo aberto e repleto de lances de perigo logo teve que tirar o cavalinho da chuva.

Tendo o empate como um bom resultado, Costa do Marfim optava por tocar a bola com lentidão, sem ameaçar a seleção brasileira, pois irremediavelmente errava os passes à medida que avançava. Mas, curiosamente, apesar de recuada, Costa do Marfim não estava retrancada e cautelosa da mesma forma como se apresentou contra Portugal, quando não abria espaços em seu campo para as ações do adversário. E o decorrer do jogo iria provar isso.

Já o Brasil, apesar da necessidade de vitória para não se complicar na tabela de classificação, preferiu jogar dentro da sua zona de conforto, esperando a Costa do Marfim, sem partir para cima, até porque não tem muitos recursos para isso. Seu forte são as escapadas rápidas na recuperação de bola na defesa. E foi nisso que apostou.

Assim, o jogo deu aquela enroscada básica que tanto tem caracterizado diversas partidas nesta Copa do Mundo. Era preciso acontecer algo. E aconteceu pelos pés de Kaká. Eu costumo dizer em relação a Kaká e à seleção de Dunga que “alguma coisa” que Kaká faça já é melhor que “coisa inteira e o tempo todo” do resto do time. Neste jogo, Kaká fez duas “alguma coisa”. A primeira, aos 25’, quando, com um toque sutil e preciso, deixou Luís Fabiano na cara do gol. Mesmo sem um ângulo dos melhores, o centroavante enfiou o pé e abriu o placar. Esperava-se que a Costa do Marfim saísse atrás do empate, mas ainda não foi nesse instante e nada de relevante aconteceu até o intervalo.

Na volta para o segundo tempo, sim, a Costa do Marfim parecia postada mais à frente, mas antes que pudesse ameaçar o gol de Júlio Cesar, Kaká fez sua segunda “alguma coisa” na partida: recebeu na esquerda, foi no fundo e apenas rolou a bola para Elano concluir no meio da área e ampliar. Ainda entorpecida pela recente vantagem, a defesa brasileira (leia-se Maicon e Lúcio) bobeou e Didier Drogba conseguiu cabecear com grande perigo, rente à trave esquerda de Júlio Cesar, após levantamento de bola vindo da direita.

Passado o susto, aí, sim, o jogo ficou à feição da seleção brasileira, que recuava e aproveitava os espaços abertos para contra-atacar com perigo. Como aos 16’, quando Kaká finalizou forte, de dentro da área, para boa defesa de Barry. No minuto seguinte, Luís Fabiano faria o gol que selaria o destino da partida, um golaço para muitos (também para mim), possivelmente um gol com as mãos de Deus, na interpretação “maradonista” da coisa. O centroavante entrou pela direita da área, ganhou no corpo de Tiené amortecendo a bola alta na mão esquerda, deu um balão em Zokora, outro em Kolo Touré, usando o antebraço direito para dominar, e fuzilou o goleiro Barry. Um golaço, mas inteiramente irregular, sem que o juiz e o bandeira daquele lado vissem alguma coisa – ou viram, mas preferiram “não ver”. Segundo Paulo Andrade, jornalista da ESPN Brasil que assistia ao jogo do alto da arquibancada, o bandeira não correu imediatamente para o meio, como de praxe. Aguardou o juiz, o juiz virou-se para o meio e só então, uns 20”, 30” depois, ele também correu para a linha divisória do gramado. Quanto ao senhor Lannoy, há um flagrante da TV que mostra o árbitro supostamente perguntando a Luís Fabiano se ele tinha usado a mão. O artilheiro jurou que não e o juizão saiu rindo. Caramba, isso me lembra de tanta coisa que já vi no futebol… Mas aqui não é o post certo para isso.

Com o 3 x 0, pouco restava à Costa do Marfim fazer. Nervosa, a equipe africana passou a entrar mais duramente nas divididas. Logo depois do terceiro gol, Elano foi deslealmente atingido por Tioné e teve que deixar o campo. Aos 29’, foi a vez de Keita pegar forte Michel Bastos. Pelo menos aqui o juiz aplicou o cartão amarelo. Graças à frouxidão e à falta de pulso e de autoridade de Stephanne Lannoy desde o apito inicial, o jogo ameaçava descambar de vez para a violência.

Com a bola rolando, foi vez da Costa do Marfim marcar, aos 33’. Gervinho levou na corrida quase a defesa inteira brasileira, que só conseguiu se safar graças à intervenção de Juan, que espirrou a bola para o lado. De lá, da esquerda, Gervinho recuou para Yaya Touré, que aproveitou a má colocação de Lúcio e de Felipe Melo para colocar a bola na cabeça de Drogba. Dessa vez o artilheiro não perdoou e cabeceou no canto esquerdo de Júlio Cesar para diminuir o placar.

Esse gol deu uma reaquecida no jogo, o que era um perigo do jeito que atuava a arbitragem. Aos 39’, Kaká levou um cartão amarelo inteiramente infantil ao empurrar o adversário em um lance de bola parada. Um minuto depois, Demel entrou feio em Luís Fabiano e também recebeu o amarelo. Na sequência do lance, Kaká novamente agiu ingenuamente, deixando o cotovelo em Tioté, que corria às suas costas. Confusão generalizada e Kaká é expulso ao receber o segundo cartão amarelo.

A Costa do Marfim ainda tentou alguma coisa, mas já não havia mais tempo. Apenas aos 46’ Júlio Cesar foi obrigado a intervir bem ao cortar um cruzamento de Tiené da direita, já dentro da grande área.

Enfim, não foi um jogo brilhante, mas foi bastante brigado – pena que quase literalmente.

No Brasil, destaque para o artilheiro Luís Fabiano, que fez o que se espera de um centroavante: gols. E dois belos gols. O “alguma coisa” que Kaká jogou nesta partida rendeu dois gols à seleção brasileira, mostrando o quanto necessário ele é nessa equipe e o quanto está acima de seus companheiros. Juan fez mais uma partida muito boa e Elano apareceu bem, inclusive deixando o seu. Destoou na equipe a ingenuidade de Kaká, que levou dois cartões amarelos absolutamente infantis. Lúcio andou se colocando mal e Felipe Melo não podia deixar Drogba livre no lance do gol marfinês.

A Costa do Marfim ficou naquela base do “vou-não vou”: nem fez a retranca que parou Portugal, nem conseguiu sair para ameaçar o Brasil. Assim, foi uma presa previsível, tanto que comentei (modéstia à parte) no intervalo que ela não tinha como virar, seu jogo não encaixava com o da seleção barsileira. O goleiro Barry fez boas intervenções e Drogba é, mesmo fora de sua melhor forma, um atacante diferenciado, tendo seu esforço sido recompensado com o gol que marcou.

Espero não ver mais a figura do senhor Stephanne Lannoy nesta Copa do Mundo. O juiz francês foi duplamente péssimo: péssimo na parte técnica e péssimo na parte disciplinar. Na parte técnica, prejudicou a Costa do Marfim. Na parte disciplinar, prejudicou o Brasil. Ou seja: fez de tudo para estragar o espetáculo. Quase conseguiu.

O melhor da noite no Soccer City? Fácil: Zinedine Zidane, que assistia à partida no estádio. A Copa do Mundo sente muito a falta de um craque como o gênio francês, que além de sofrer vendo o incrível Raymond Domenech acabar com a seleção francesa, ainda paga o mico de presenciar in loco um compatriota de apito na boca manchar mais ainda a história do futebol de seu país na África do Sul.

Segue o link da página da Fifa sobre o jogo: Jogo 29: Brasil 3 x 1 Costa do Marfim.

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COPA DO MUNDO 2010 ► Deu urso polar na África: Nova Zelândia consegue empate histórico contra a Itália

O bonito Mbombela Stadium tem as cadeiras zebradas, pintadas em preto e branco. Se a Copa não fosse na África, como escrevi uma vez, teria sido uma zebra. Mas em terras africanas, o resultado de 1 x 1 entre Nova Zelândia e Itália foi um imenso urso polar.

Poderia no título do post ter destacado o vexame histórico italiano – e foi dos maiores. Mas preferi valorizar primeiro o feito neozelandês.

Após o empate da Nova Zelândia com a Eslováquia, andei visitando os sites de alguns jornais neozelandeses. E a repercussão foi fenomenal. Na terra dos All Blacks, a seleção de rúgbi mais tradicional e vencedora do mundo (tipo o Brasil no futebol ou os EUA no basquete), os All Whites (referência ao uniforme todo branco do time de futebol) roubaram as manchetes. Enquetes apontaram o resultado como um dos maiores feitos do esporte nacional, quase rivalizando com as conquistas dos All Blacks. O que dizer agora com o empate contra a tradicionalíssima Esquadra Azurra? Imagino que será um amanhecer (é, porque esse jogo foi realizado durante a madrugada pelo fuso horário de lá) de muita festa e orgulho nacional por mais esse feito de sua praticamente amadora seleção de futebol: All Whites 1 x 1 Itália. E só não venceu porque a Itália ganhou um pênalti daqueles…

Mas antes, quem não viu talvez precise beliscar-se para acreditar que ainda não está dormindo. Como sugere o início da matéria do New Zeland Herald, de Auckland: “All Whites 1 x 1 Itália. Dê uma olhada na tabela. Olhe de novo. Em segundo lugar, empatada com a Itália, está a Nova Zelândia.” O jornal faz questão de salientar a diferença entre o futebol dos dois países: enquanto a Itália tem 3.541 jogadores profissionais de futebol, a Nova Zelândia tem… 25! E o segundo parágrafo termina assim: “Um país que disputara apenas quatro partidas de Copa do Mundo antes desta manhã empatou com um que tem quatro títulos mundiais. Loucura.” Mas loucos mesmo devem estar os italianos…

O jogo é um daqueles cuja repercussão é com certeza maior que o que aconteceu em campo. E tudo começou com uma falta na esquerda da intermediária ofensiva neozelandesa. Todos sabem que a única jogada de perigo do time da Oceania é a bola alta para seus fortes e altos jogadores tentarem o cabeceio. E lá foi a bola para o meio da área. Cannavaro falhou e o centroavante Smeltz empurrou para o gol. Houve quem dissesse que foi irregular, que o enésimo replay da milionésima câmera mostra que a bola resvalou em um jogador de branco antes de chegar em Smeltz, que assim estaria impedido. Por essas e outras que o genial Nelson Rodrigues dizia que o videotape era burro…

Eu poderia continuar assim: “Passado o choque, a Itália colocou a bola no chão e fez valer a imensa superioridade de seu futebol.” Mas só em outra dimensão. O time de Marcello Lippi é muito enrolado. Mal convocado, mal escalado, joga mal, lógico.

Nervosos, os italianos eram incapazes de trocar passes e começaram a jogar bola na área adversária de tudo que era jeito. O que não fazia muito sentido contra um time que só tem de bom mesmo o jogo aéreo. Então, nada acontecia. Era uma pressão infrutífera.

Só aos 21’ a Itália ameaçou de verdade pela primeira vez, com um chute de Zambrotta de longe que quase acerta o ângulo direito do goleiro Paston. O veterano lateral que, por sinal, era o único a tentar colocar a bola no chão e ao menos chegar ao fundo antes de cruzar.

Aos 26’, o presente do péssimo juiz guatemalteco Carlos Batres. Eu avisei no post sobre Eslovênia 1 x 0 Argélia. O jeitinho dele apitar não me enganava. E não deu outra: após lançamento na área, De Rossi se atira após ter a camisa puxada pelo zagueiro Smith. Foi um desses puxões de camisa que acontecem às dezenas e que em nada desequilibrou o italiano, que mergulhou depois. Iaquinta, que jogava mal como quase todo mundo, mas ao menos se apresentava para as jogadas, pegou a bola e cobrou bem, no canto esquerdo do goleiro, que caiu no lado oposto.

Para quem imaginava coisas tipo “agora vai”, nada foi. Só aos 45’ a Itália voltaria a ameaçar, quando De Rossi chutou à meia altura de longe e a bola jabulaniou até encontrar a trave direita de Paston, que só fez golpe de vista.

Logo no primeiro minuto da segunda etapa, Di Natale, que entrara no intervalo, batera sem ângulo para defesa de Paston. A Itália voltou aparentando mais tranquilidade, tentando tocar com mais calma para chegar ao gol adversário. Não fossem as vuvuzelas, creio que seria possível escutar os gritos vindos do banco: “Calma! Calma! Calma!”

A entrada de Camoranesi ajudava, pois é um jogador que visivelmente tenta pensar e jogar com a bola nos pés, e não voando de um lado para o outro. Mas, de efetivo, não acontecia muita coisa. Só aos 15’ uma enfiada para Iaquinta na área, mas o atacante se desequilibrou após girar sobre o zagueiro e chutou mal.

A essa altura, a Nova Zelândia, que não conseguia que o juiz marcasse faltas a seu favor para jogar bolas na área, procurava ameaçar nas cobranças de laterais. No rebote de uma dessas cobranças, aos 18’, Vicelich quase desempatou, acertando um balaço quase no ângulo superior direito de Marchetti.

Aos 25’, quando a paciência italiana já diminuía bastante, Montolivo acertou uma bomba de fora da área para excelente defesa de Paston com a palma da mão. Aos 27’, o capitão neozelandês Nelsen cortou na hora certa, na pequena área, cruzamento perigoso vindo da ponta esquerda.

Sem nenhuma criatividade, era hora da Itália partir para o tudo ou nada. Aos 32’, Smith tirou do pé de Iaquinta após grande passe de Camoranesi, jogando para escanteio. Na cobrança, foi a vez de salvar após cabeçada que tinha endereço certo.

No estádio, com vuvuzelas e tudo, aposto que agora já se podia escutar o banco de reservas italiano gritando a plenos pulmões: “Desespero” Desespero” Desespero!”

E o desespero quase aumentou aos 37’, quando Wood driblou o outrora grande zagueiro Cannavaro e bateu cruzado da esquerda, com a bola passando raspando a trave direita de Marchetti. Na base daquele tal desespero, Camoranesi bateu forte de fora da área para difícil defesa de Paston e aos 45’ Nelsen salvou o gol após grande infiltração de Zambrotta pela direita. Ficou nisso.

Esse tipo de jogo é que faz um fã de futebol aguentar certas peladas mundiais, pois, nível técnico à parte, a dramaticidade e a possibilidade de um resultado histórico acabam fazendo valer a pena não sair da frente da TV.

Na heroica resistência neozelandesa, todos se empenharam com ardor. Mas não há como não destacar o goleiro Paston e a zaga formada pelo veterano Nelsen e seu companheiro Smith, além dos laterais Reid e Vicelich. Todos devem sair com muita dor de cabeça de tanta bola que rebateram pelo alto.

Na Itália, o veterano Zambrotta fez o que as pernas permitiram, quase empatando no fim. E a presença de Camoranesi no banco durante o primeiro tempo inteiro mostra que o senhor Marcelo Lippi tem uma visão de futebol um pouco diferente da minha e, creio, de grande parte do resto do mundo.

Segue o link da página da Fifa sobre o jogo: Jogo 28: Itália 1 x 1 Nova Zelândia.

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COPA DO MUNDO 2010 ► Com muita segurança, Paraguai vence Eslováquia por 2 x 0 e está quase nas oitavas de final

Com uma boa atuação, o Paraguai derrotou sem maiores problemas a insossa seleção da Eslováquia no Free State Stadium (adoro nomes completos, sem traduzir para “estádio”), em Bloemfontein, que estava com a maior parte de seus 48 mil lugares vazios.

Desde o início da partida,a seleção paraguaia procurou atacar a Eslováquia. Armada com três atacantes (Lucas Barrios mais à direita, Roque Santa Cruz centralizado e Valdez caindo pela esquerda), pressionava a saída de bola adversária, que quase não chegava ao campo de ataque. Já no primeiro minuto, Barrios cruzava com perigo da direita. No minuto seguinte, Santa Cruz batia cruzado da meia-esquerda, com a bola desviando na zaga antes de encobrir com perigo a meta eslovaca. Logo depois, Valdez girou errado quando estava no mano-a-mano dentro da área. E só aos 8’ a Eslováquia chegava pela primeira vez ao ataque, mas Durica desperdiçou boa jogada cruzando muito mal. E melhor não fez a Eslováquia durante toda essa etapa e praticamente o jogo inteiro.

Aos 19,’ o goleiro Mucha defendeu chute rasteiro de Riveros da entrada da área e aos 23’ Barrios entrou tabelando pela direita com Veras, deu de calcanhar, recebeu de volta e chutou com perigo. No minuto seguinte foi a vez de Valdez girar e assustar o goleiro Mucha.

Estava na cara que o gol paraguaio amadurecia mais que banana no calor, né? Finalmente, aos 27’, Lucas Barrios enfiou linda bola no meio da zaga para Veras , que mesmo pressionado tocou com categoria no canto direito de Mucha e fez 1 x 0.

Aos 36’, a Eslováquia aproveitou um escanteio para uma rara finalização, mas Salata cabeceou por cima. Aos 41’, o Paraguai apertou mais uma vez a saída de bola e Santa Cruz perdeu grande chance, batendo rasteiro cara a cara com Mucha, que salvou com o pé direito.

No intervalo, poderia dizer que fiquei pensando cá com meus botões, só que não havia botões no meu moletom. Mas pensei assim mesmo: “O que pensa da vida uma seleção como a Eslováquia?” A equipe chega pela primeira vez como país independente a um Mundial, não é muito cotada, tem a chance de aparecer para o mundo, fazer alguns de seus bons jogadores se destacarem… Mas adota uma postura covarde, não sai para o jogo e até contra a quase amadora Nova Zelândia recuou para segurar um magro 1 x 0, sendo justamente castigada no final. Enfim…

A única mudança no segundo tempo foi que o Paraguai já não forçava tanto a marcação na saída de bola adversária, mas ainda assim mantinha total controle sobre a partida. Em algum momento imaginava-se que a Eslováquia sairia em busca do empate e abriria espaços. Mais fácil seria bater bola com Papai Noel…

Vendo que nada acontecia, o Paraguai tratou de definir a partida. Aos 26’, em uma rápida triangulação, Aureliano Torres (que substituíra Valdez) lançou Santa Cruz na esquerda e este centrou para Veras cabecear bem, para baixo, com a bola raspando a trave direita. Pouco depois, Torres finalizou com perigo de fora da área. E foi aos 40’ que o Paraguai deu números finais ao placar. Torres cobrou falta da intermediária para a direita, Paulo da Silva escorou no segundo pau, a bola rebateu na zaga e sobrou para Cardozo e o próprio Paulo da Silva se atrapalharem um pouco, mas não a ponto de impedir que o zagueiro ajeitasse para Riveros acertar um belo chute de esquerda no ângulo direito de Mucha, que nada pôde fazer. Vitória garantida. Aos 47’, a Eslováquia ao menos deu oportunidade ao goleiro Villar de sujar o uniforme e valorizar a lavanderia, espalmando a escanteio um forte chute da entrada da área desferido por Vittek.

Gostei da postura que o técnico Gerardo Martini deu ao time paraguaio, com três homens à frente e mantendo-se assim até o fim, com Valdez e Barrios só saindo para a entrada de outros atacantes, Cardozo e Torres. Barrios fez um grande primeiro tempo (deu uma apagada no segundo, parecia cansado) e Veras foi o melhor em campo, com grande movimentação e chegando muito bem para auxiliar o ataque na área adversária.

Na Eslováquia, destaque absoluto para o treinador Vladimir Weiss – negativo, claro. Sua covardia impede o time de jogar e os jogadores de aparecerem. Mas não dá para não registrar a boa atuação do goleiro Mucha, que impediu um placar mais elevado. E eu achei esse Mucha a cara do Taffarel!

Segue o link da página da Fifa sobre o jogo: Jogo 27: Eslováquia 0 x 2 Paraguai.

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NBA ► Em partida dramática, Los Angeles Lakers vira para cima do Boston Celtics e é bicampeão da NBA

Boston Celtics 79 x 83 Los Angeles Lakers
Final
(3 x 4)

Restando 25 segundos para o fim do jogo, o Los Angeles está batendo o Boston Celtics por 79 x 76. Kobe Bryant erra mais um de seus tiros de 3 da noite. Pau Gasol pega mais um rebote e devolve a bola a Kobe. Kobe parte para o garrafão do Celtics e é bloqueado com falta por Rasheed Wallace. Dois lances livres. Naquele breve tempo antes das cobranças, as câmeras captam Kobe Bryant. Ele está completamente exausto, tentando desesperadamente recuperar o fôlego. Acompanho Kobe desde que iniciou a carreira e já lá se vão 13 temporadas. Jamais o vi assim. Foi o melhor retrato da sensacional partida que deu ao Lakers o bicampeonato. A propósito, Kobe converteu os dois cruciais arremessos.

Foi sensacional. E alguém poderá dizer, não sem certa razão: “Mas como assim? Um time acerta só 40% dos chutes, o vencedor só 32%, o placar é dos mais baixos da história das finais e você ainda diz que foi sensacional?” Foi, foi sensacional. Foi uma partida em que cada ponto, cada bloqueio, cada rebote, cada roubada, tudo era comemorado como se fosse a bola do jogo. Até a normalmente mais fria torcida do Lakers transformou o Staples Center em uma versão amarela do Boston Garden. Foi um apartida jogada em um nível de competitividade, de esforço físico e de tensão que não me lembro de ter visto desde aqueles filmes clássicos da sobre as finais dos anos 1980 entre… Lakers e Celtics. Não à toa, foi a maior audiência da NBA desde a final de 1998 entre Chicago Bulls e Utah Jazz, que deu o último título a Michael Jordan. Foi uma grande marca, considerando que hoje há diversos meios de assistir a um evento desses sem ligar a TV, através da internet.

Do jogo, em si, vou tentar ser sucinto. Desconsiderando o jogo 6, como diz o clichê, um ponto fora da curva, a série inteira foi jogada ao estilo Celtics de ser: muito contato, muita defesa, muita entrega, pontos arrancados a fórceps, muito coração mesmo. Para este jogo 7, o ideal californiano seria levar a partida ao seu estilo. Ou seja, mais aberta, com as bolas caindo e os times pontuando alto. Porque nesse cenário o Celtics não teria como acompanhar o Lakers. Para o Celtics, o cenário ideal era o oposto, do modo como a série vinha sendo jogada.

E desde o início, ali na metade do primeiro quarto, quando os times estavam enroscados num modesto 10 x 9 (a favor do Lakers), deu para perceber que o campeonato seria decidido no jeito Celtics de ser.

E no jeito Celtics de ser, o Celtics levava vantagem, num jogo de muitos erros nos arremessos, algo também comum nessas finais. E lá pelos 8 minutos do terceiro período os verdes abriam 13 pontos de vantagem, uma vantagem quase impossível de tirar contra qualquer Celtics numa decisão e em especial quando os pontos são chorados, conquistados um a um com tanto sacrifício.

E ninguém acertava muito em quadra. No Lakers, Kobe e Gasol fracassavam nos chutes, acompanhados por Paul Pierce e Ray Allen do outro lado. A rigor, apenas Kevin Garnett e Derek Fisher tinham bom aproveitamento. Todos compensavam, porém com total empenho na disputa de literalmente todas as bolas.

Mas o Lakers deu um jeito e começou o último quarto apenas quatro pontos atrás, diferença que caiu logo no primeiro ataque desse tempo final. Dominando os rebotes (em toda a série vencia quem pegava mais rebotes) e com total dedicação à defesa, a 7’29” do fim, finalmente o Lakers conseguia alcançar o Celtics, empatando no baixíssimo placar de 61 x 61. A 5’56” os campeões conseguiram passar a frente (com dois lances livres de Kobe (66 x 64) e, apesar de toda a garra, a briga e a determinação do Celtics, segurou com unhas e dentes a vantagem alcançada e venceu por 83 x 79. E conseguiu se segurar porque para cada dose de garra verde, havia a correspondência amarela, para cada gota de suor em uma metade da quadra, quantidade igual era derramada na outra. E por aí foi. Até o fim.

Foi justíssimo o campeonato do Lakers, como também teria sido se o Celtics vencesse. Como foi postado no Bola Presa (link aí ao lado), Kobe, Gasol, Fisher, Andrew Bynum, Lamar Odom, Ron Artest, Garnett, Allen, Pierce, Rajon Rondo, Kendrick Perkins… Todos mereciam o anel. Não dava para imaginá-los como derrotados. Quem ama basquete – e basquete competitivo, jogado com alma – dividiria o título entre as duas maiores franquias da NBA se pudesse. Mas só poderia haver um campeão.

O Boston Celtics mostrou mais uma vez por que é o time mais difícil de ser batido numa série decisiva. Entrou sem alarde nos playoffs, atropelou o Miami Heat de Dwyane Wade e surpreendeu os favoritos Cleveland Cavaliers e Orlando Magic em seis grandes jogos. Contra o Lakers, nunca havia perdido um jogo 7. Desta vez não deu. Pena que talvez este time de Kevin Garnett, Paul Pierce, Ray Allen e Rajon Rondo não deva voltar igual a uma série de playoffs. Garnett, Allen e Pierce já estarão na próxima temporada na casa dos 35. Rondo com certeza voltará e um novo Celtics deve ser construído em torno dele.

Alguns números verdes de ontem:

Kevin Garnett – 17 pontos, 3 rebotes, 2 assistências, 4 tocos. Foi o jogador de melhor aproveitamento, acertando 8/13.
Paul Pierce – 18 pontos, 10 rebotes. Foi um dos que fracassaram chutando (apenas 5/15), mas, como todos, jamais desistiu de lutar.
Rasheed Wallace -11 pontos, 8 rebotes. Substituiu bem, na medida do possível, o contundido pivô Kendrick Perkins, mas não pôde evitar que Gasol e Bryant dominassem os rebotes. O Celtics sentiu na pele a falta de seu homem grande no garrafão, da mesma forma que o Lakers sofria com o joelho de Bynum.
Ray Allen – 13 pontos. Acertou apenas 3/14. Apesar do esforço, principalmente na marcação a Kobe, não foi bem na série contra o Lakers. Seus pontos fizeram falta.
Rajon Rondo – 14 pontos, 8 rebotes, 10 assistências. Ótima partida, especialmente se considerarmos a dificuldade de pontuar e assistir. Sozinho fez quase o mesmo número de assistências que todo o time adversário. Acertou uma incrível bola de três que reduziu para dois pontos a desvantagem no placar a 13 segundos do fim. Fez uma grande pós-temporada e só precisa ajustar seu arremesso de fora.
Glen Davis – 6 pontos, 9 rebotes. O gordinho ala de força reserva foi a única contribuição significativa saída do banco e fez uma bela série. Aliás, jogou com muita garra e contribuiu bastante em todos os playoffs.

O Lakers tornou-se o campeão a vencer o jogo decisivo com menor aproveitamento nos arremessos, apenas 32,5%. E como venceu? Defendendo, marcando, roubando bola, pegando rebotes. Muitos rebotes, que proporcionaram uma série de segundas bolas e de lances livres que o mantiveram na partida. Foi o Lakers mais Celtics, creio, jamais visto na NBA. E vencer o Celtics assim, no estilo de jogo tradicionalmente dominado pelo rival, não deve ter preço para o torcedor do Los Angeles.

Alguns Lakers na partida final:

Ron Artest – 20 pontos, 5 rebotes, 5 bolas roubadas. O homem que um dia se ofereceu a Kobe para ajudá-lo a ser campeão mostrou a que veio. A bola de 3 que acertou faltando um minuto foi qualquer coisa – com direito a beijinhos para a torcida e tudo. A entrevista de pós-jogo dele foi simplesmente surreal.
Pau Gasol – 19 pontos, 18 rebotes, 4 assistências. Fez a partida de sua vida. Mas só acertando 6/16? É. Jogando fora de sua zona de conforto, Gasol finalmente calou de vez as críticas sobre sua atuação nas finais de 2008. Contra o mesmo Celtics, teve uma atuação puramente física, dominou o garrafão (aproveitando bem a ausência de Perkins) e pegou aquele decisivo rebote que resultou nos lances livres de Kobe que mencionei lá em cima.
Andrew Bynum – 2 pontos, 6 rebotes. Outro herói escondido pelos números. A dedicação do pivô, com um joelho que, segundo os médicos, só permitiria, no máximo, 10 minutos diretos em quadra, com certeza contagiou os companheiros.
Kobe Bryant – 23 pontos, 15 rebotes, 2 assistências. Os números foram bons, mas Kobe foi muito mal nos arremessos, acertando apenas 6/24. Como disse depois do jogo, sentia-se exausto e estava com tanta vontade que várias vezes perdeu o foco da partida, errando justamente em uma de suas maiores qualidades, especialmente em momentos cruciais: o timing, apressando jogadas, infiltrando fora do tempo e chutando mal. E, ainda em suas palavras, quanto mais tentava, mais errava. Para compensar, dedicou-se como um leão na defesa e bateu seu recorde de rebotes em partidas de playoffs. E foi justamente eleito MVP das finais, porque depois de todo o sacrifício numa temporada que jogou sem costas, joelho e sem dois dedos (às vezes com – ou sem – tudo ao mesmo tempo), era hora de receber a ajuda de seus companheiros.
Derek Fisher – 10 pontos, 2 assistências. O cara certo das horas incertas fez ótimo trabalho na marcação e acertou aquele bola de 3 que deu o empate ao Lakers na metade do último período. Foi mais um anel que o veterano armador conquistou com seu companheiro desde o início da NBA, Kobe Bryant.
Lamar Odom – 7 pontos, 7 rebotes. Se não apareceu em números, sua atuação foi importantíssima no verdadeiro fio desencapado que foi a briga dentro do garrafão, assim como em toda a campanha do bicampeonato.
Sasha Vujacic – 2 pontos, 1 rebotes. Dois lances livres convertidos faltando 13 segundos para zerar o cronômetro que fizeram valer cada centavo do seu contrato de 5 milhões de dólares.

Enfim, o que importa para quem é fã de basquete, como o blogueiro aqui, é que, parafraseando (adoro esse verbo) Nelson Rodrigues, Lakers e Celtics protagonizaram uma daquelas séries decididas em um jogo 7 que daqui a 200 anos o país e toda a cidade dirá mordida de nostalgia: “Ah, aquele Celtics x Lakers…”

Kobe

Kobe merece um parágrafo à parte – ou dois. No blog do Lakers no site da ESPN, assinado por Brian Kamenetzky, há uma interessante consideração que tem a ver com aquela imagem que me impressionou de Kobe antes de acertar aqueles importantes lances livres. Segundo o autor, pela primeira vez em toda a carreira, a atuação de Kobe revelou seu lado humano. Nesse jogo 7, um mortal vestia a camisa 24 do Lakers, sendo visível sua exaustão e seu esforço para superar uma noite ruim. Não era aquele ser frio e preciso que põe a bola embaixo do braço e decide jogos batendo o cronômetro com a mesma tranquilidade com que eu faria uma bandeja brincando sozinho numa quadra. Na noite de seu quinto anel, Kobe teria sido apenas mais um jogador, guerreiro, lutando para colaborar de alguma forma com seu time. E o fez defendendo. De acordo com Kamenetzky, Kobe foi humano como nunca e essa humanidade poderia aproximar as pessoas do astro como nunca antes.

Outro assunto que dominou o dia seguinte é o posto de Kobe no hall dos maiores Lakers de todos os tempos. Para muitos, o posto número 1 já e dele. Com o aval de Magic Johnson. Em seu artigo, também no site da NBA, Chris Broussard faz interessantes considerações a respeito. Basicamente, ele diz que Kobe tem alguns méritos superiores ao de Magic, de quem o jornalista se diz fã de carteirinha. Um deles, de que Kobe jamais teve o elenco que Magic tinha ao seu lado. Outro, de ser um formidável defensor, o que faria dele um jogador mais completo que Magic Johnson, mesmo este sendo provavelmente o único na história da NBA a jogar em qualquer posição em alto nível. Mencionando Michael Jordan, ele acha que MJ vem ainda na frente de todos, mas que Kobe também levaria vantagem em dois aspectos: não teve ao lado um Hall da Fama como Scottie Pippen e o Celtics que derrotou nestas finais é melhor que qualquer adversário superado por Jordan e o Bulls em seus seis títulos.

Fechando, o minimovie do jogo 7 produzido pela NBA:

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